A Espera

O relógio marca 11h23.

Na mesa ainda há migalhas do café da manhã

A xícara tem uma película grossa de café frio.

Na minha boca a saliva está grossa

O gosto é de uma noite mal-dormida com resquício de um café amargo que se acabou.

Minha visão está embaçada,

Meus olhos estão sujos, remelas transbordam pelos cantos

Maquiados pelas minhas insônias intermitentes

Que me roubam o merecido descanso, ou não.

O ponteiro preguiçoso não avança,

A campainha histérica não grita,

O telefone não geme,

A porta não apanha,

Sua voz não me chama.

Meus cabelos sujos, compridos não mantêm a compostura,

Desfeitos como toceiras de colonião após o vento.

Meu rosto cinza e perigoso pela barba por fazer,

Crescida pela preguiça e pelo desgosto.

Minhas unhas sujas aumentam meus dedos

Que ainda seguram a xícara e raspam as migalhas.

Minhas veias agora mapeiam minha vida,

Roxo-azuladas abaixo da minha pele amarela.

Ainda estou aqui,

Sua voz não me chama,

Ninguém chega,

São 11h23.

São Paulo, 24 de junho de 2008.

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