FOTOGRAFIA
Prédios crescem
Como cogumelos, por entre a floresta
De fábricas.
Aviões que passam,
Levando desconhecidos.
E as poucas árvores,
São de um verde envergonhado.
Novas pontes
De cimento-armado,
Têm gruas gigantescas,
A observá-las.
E o Tejo vai correndo,
Vestindo manto azul, a lama.
Cristais de vidro,
Emitem sinais de presença –
Se lhes bate o sol;
Diversos sons,
Fazem-se anunciar –
Se o vento é de feição;
E há pardais
Esquecidos, nos andaimes.
Cruzam-se comboios,
E janelas de escritório.
E o riso escarninho,
O suor e os cigarros
De perfume barato, saem
P’rá rua, pelas condutas
Do ar, condicionado.
Entretanto lá fora,
O operário
Continua erguendo prédios,
Novas pontes,
E um Tejo adormecido,
Persiste no correr.
Cai a noite.
E o espectro das árvores
E das gigantescas gruas,
Deixam perceber melhor
O chilrear dos pardais,
Brincando nos andaimes.
Cruzam-se comboios, e pessoas,
Ironias,
Suor e cigarros
Embebidos de perfume,
No seu regresso a casa.
Está frio.
E os espasmos do motor,
Ao ser desligado, fazem
Vibrar o frágil metal
Das condutas, do ar condicionado.
Extinguem-se as últimas luzes
Tremeluzentes,
Dos escritórios...
E as janelas,
São como olhos vazios
De mosca.
Corro a persiana.
E enquanto escrevo
Este poema,
No sossego do meu quarto,
Lá fora as fábricas
Sabem-se ali,
E o cristal do vidro, no cair
Nos silos, faz-se anunciar –
Se o vento está de feição.
Deito-me.
E deixo-me embalar,
Num silêncio de ruídos conhecidos.
Regressam os aviões...
Jorge Humberto
in Fotogravuras I