Orquestra da Vida
As nuvens se fecham na escuridão em tom vermelho;
Árvores se encolhem e se abraçam caladas;
Ao redor o silêncio se põe a andar entre a poeira e as folhas amargas.
Enquanto a brisa fria procura rumo nas janelas soltas.
Em segundos, trovões rompem o silêncio.
Rãs, grilos e sapos afinam sua orquestra.
Há poeira na mata,
Há aflição nas vidase a chuva não cai não.
Os lagos e chacos seguem nas ressacas seca jamais vista
Em tal seara.
Não é possível tantas vidas se perderem sem razão.
Não foram lá na selva grande cortar árvores com machado ou facão.
Queima em meio a escuridão as folhas,
O céu continua em tom puro de vermelhidão.
Todos a beira da lagoa oram ao invés de cantarem uma canção.
Nem por isso a noite fria vai embora.
E de um profundo silêncio,
Aguardando a morte, rio solto salta do céu
Um enxovalhar de pranto à aquela multidão.
Sapos, rãs, grilos vêem cumprida sua missão.
Árvores inteiras de dentro do carvão saltam a vida.
Lagos se refastelam e chacos devolvem a cura as feridas.
Não há mais fumaça e a poeira seguiu para outeiro.
As serras, machados e outras composições do homem,
São enfeites guardados na sacola de estimação.
O homem que passa,de sua própria prisão,
Para os filhos da mata ficam sem julgamento,
Pois que a lei da selva é o perdão.
Não podia ser diferente, pois os seres não são gente.
E gente não são seres, apesar de nos empreenderem
Reis da civilização.
Vale ao sapo a sua canturia;
vale ao rio que desce as ressacas,
Vale a brisa, vale a mata,
Vale o riso, vale viver a efemeridade das horas,
Vale a vida ainda que tudo esteja em extinsão.