Orquestra da Vida

As nuvens se fecham na escuridão em tom vermelho;

Árvores se encolhem e se abraçam caladas;

Ao redor o silêncio se põe a andar entre a poeira e as folhas amargas.

Enquanto a brisa fria procura rumo nas janelas soltas.

Em segundos, trovões rompem o silêncio.

Rãs, grilos e sapos afinam sua orquestra.

Há poeira na mata,

Há aflição nas vidase a chuva não cai não.

Os lagos e chacos seguem nas ressacas seca jamais vista

Em tal seara.

Não é possível tantas vidas se perderem sem razão.

Não foram lá na selva grande cortar árvores com machado ou facão.

Queima em meio a escuridão as folhas,

O céu continua em tom puro de vermelhidão.

Todos a beira da lagoa oram ao invés de cantarem uma canção.

Nem por isso a noite fria vai embora.

E de um profundo silêncio,

Aguardando a morte, rio solto salta do céu

Um enxovalhar de pranto à aquela multidão.

Sapos, rãs, grilos vêem cumprida sua missão.

Árvores inteiras de dentro do carvão saltam a vida.

Lagos se refastelam e chacos devolvem a cura as feridas.

Não há mais fumaça e a poeira seguiu para outeiro.

As serras, machados e outras composições do homem,

São enfeites guardados na sacola de estimação.

O homem que passa,de sua própria prisão,

Para os filhos da mata ficam sem julgamento,

Pois que a lei da selva é o perdão.

Não podia ser diferente, pois os seres não são gente.

E gente não são seres, apesar de nos empreenderem

Reis da civilização.

Vale ao sapo a sua canturia;

vale ao rio que desce as ressacas,

Vale a brisa, vale a mata,

Vale o riso, vale viver a efemeridade das horas,

Vale a vida ainda que tudo esteja em extinsão.

Alberto Amoêdo
Enviado por Alberto Amoêdo em 30/08/2008
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