Impermanências
Suave é o chão aonde me deito
Ilusório como todo chão.
Horas me comprime o peito
Horas me eleva o coração.
Nada há que explique esse corpo estendido
Nem há de perder o tempo a pensar
Nem mesmo supor que tenha ele compreendido
Qualquer coisa na mente a vagar.
Desenhos se desmancham no ar
Com a mesma facilidade com que foram formados
Os brilhos que lá pusemos a sonhar
As coisas de que os imaginamos ornados.
Compreendendo essa impermanência
O viver parece um canto difuso
E doura a nossa clemência
De tons e elementos confusos.
Suave é o ar no qual eu vôo
Ilusório como todo ar.
Horas me introduz ao sono
Horas me transtorna o olhar.
Ah Deus que desmedidas sensações
Que o meu imaginar tem
Incitam–me a tantas canções
Nesse espaço aonde não há ninguém.