Sinfonia da chuva

A chuva escorre em gotinhas, luminosas
Seu gosto me adoça a boca, sequiosa
Sobre a cidade, olho a úmida paisagem,
Negrume e raios penetrando a terra.

Brincava eu nas poças, 
Quando menina faceira,
Segurava as mãos em conchas,
Sugava, fazendo beicinho,
Sob as goteiras das telhas.

A água entrava com o vento, 
Pelas paredes de madeira fina.
As florzinhas também gotejavam,
O cheiro de mel caramelado
Inundava sala, galpão e cozinha.

Assisto  a chuva instigante, seus sons
Em sinfonia, um longo tempo, seus
Cânticos embalando os pequeninos.
Ao terno anoitecer nos envolvendo,
Em ruidosos chiados e assobios.

A densa noite, esvai-se... pela via
Ciclistas se afundam na lama,
Timbales estridentes cordas rompem,
Jorram goteiras de alambrados
Deslizante água sonora e fria...

Densas nuvens vão despencando,
Fervilham trovões... ameaçadores,
Poças dispersas de lodo e pedras,
Gotículas prateadas vão encharcando
A intensa e bucólica planície.

Reflexos, rastros luminosos confundem
Luzes distantes nos postes enfeitiçam,
Umas sombrinhas incautas se embalam
Em mágicas mãos de moças audazes,
E de coloridos passageiros da avenida.

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Izabella Pavesi
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imagem: internet