Sábado

O ar é sujo

Mas respiro-o assim mesmo

Quando não se tem opção

Você se conforma com o pior

pior

Pior que o ar sujo e fétido

São os canais de televisão

Odeio todos eles

Preciso de algo que ocupe minha mente

Me faça esquecer de todas as coisas

Já dormi demais

Minha cabeça lateja toda vez que me movimento

Por causa disso não consigo ler

Ler faz pensar

Não quero pensar

Hoje é sábado

Sábado frio e chuvoso

Não quero tomar decisões

Só quero fingir que eu não sou eu

Não precisar me preocupar

Com as coisas que isso implica

Pensar em nada

Inclusive do ar podre

Ele faz coçar meu nariz

Só pode ser alguma fossa aberta

Ou o lixo amontoado no terreno do vizinho

Também quero esquecer que eles existem

Ficar de pijama em casa me faz sentir menos eu

O eu que ninguém vê

Ele só vive aos sábados

Quando não tem ninguém por perto

Sem problemas

Soluções

Somente o fedor pra se respirar

Se eu morasse no campo

Com certeza sentiria o cheiro de terra molhada

Flores de primavera

Ainda bem que moro na cidade

Heroína iria resolver meu problema

Mas ela não vem ao caso

Pelo menos não ao meu caso

O celular tocou há uns 15 minutos

Estava longe demais

Mas eu não atenderia

Nem se estivesse ao alcance da mão

Mas não

Eu deveria sim

Deveria ligar pra alguma garota

Alguma com quem eu poderia transar

Um sexo sem compromisso

E depois voltaria pra cá

Pra fumar o mesmo cigarro

Ouvir Joy Disision e Norah Jones

Por toda a madrugada

A atmosfera perfeita:

Melancolia

Solidão

Vinho barato

E comida de microondas

Sinto o gosto ruim do ar na garganta

O gosto de um sábado chuvoso na cidade

[rh.06.09.08.18:07]

Ricardo Henrique
Enviado por Ricardo Henrique em 06/09/2008
Reeditado em 06/09/2008
Código do texto: T1165029