Afetada

Nos dias em que a alma está descuidada,

as palavras saem desgovernadas,

parecem querer furar olhos da razão;

têm um jeito arrogante e fala afetada

debruçam-se nas horas, dão gargalhadas

ou fiam rosários de lamentação.

Nesses dias de descarado desleixo

picoto prosas, me rasgo em poesias,

tenho enxaquecas de saudades

passo horas apoiada sobre meu queixo

enjoada pelas minhas maresias

e o corpo martelando tantas vontades.

Nesses dias de alma trincada

não pela fome, como se come!

Balas, bombons, chocolates,

nada preenche a alma varada

desse vazio que consome, e não some,

falta coragem e sobram ataques;

de choro, de agonia, de carência,

as mãos transpiram, o corpo se revira

entre soluços e voz arquejada.

Um delírio, uma febre doida

e as letras fervem, borbulham;

instinto puro de sobrevivência,

salve-se quem se vira

já que a vida é um quase nada

que explode em cada dia, afoita

por sua mera complacência.

Angélica Teresa Faiz Almstadter
Enviado por Angélica Teresa Faiz Almstadter em 26/02/2006
Código do texto: T116542
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