Adverso

Adverso

Teus olhos contêm a candura

Da chama que dança na vela

Na noite silente e escura

A hipnose que acalma a serpente

A gnose inerente à loucura

Que cura a esclerose da mente

Teus olhos, detrás da brancura

Contêm essa chama indecente

Que cessa a incessante procura

Da essência da vida da gente

Que urge e que arde candente

Debaixo da crosta já dura

Dobrada como uma brochura

Cobrindo a premente leitura

Que perde o sentido p´ra mim

Desfolham-se e queimam por fim

As folhas que, sem cobertura

Espalham-se em festa e motim

Teus olhos, perfeito jardim

Abrigam-me as flores: a palma

O lótus, o lírio e o jasmim

E com seu colírio que acalma

Depura o perfume da alma

Que exala p´ra além das narinas

Só há fim se enfim determinas

No infindável motim que confinas

No abrigo infinito em teu peito

O que tens não entendo direito

No estreito sentido que afirmas

Só sei que me inspiras pretexto

Malgrado o adverso contexto

P´ro verso, com métrica e rimas

D.S.