O TREM DA VIDA
Tu me levaste para o lugar certo? Andei tanto e não cheguei a nenhum que dissesse este é o MEU LUGAR. Meu bilhete era sempre de ida...Conheci muitas paragens, mas a estação onde embarcara estava sempre em mim. Corri tanto para não sair do meu chão...
Teu apito me era tão familiar até que te conheci por dentro e por inteiro...No início, movido pela curiosidade, fiquei deslumbrado... De repente subir e descer tornou-se rotina...
Experimentei outros trens e o processo era o mesmo... Cresci; tornei-me homem; me prostituí...De degrau em degrau cheguei ao último: o degradante. A vida ávida avivava a avidez da forma dissoluta, entre a ingênua menina de família, e a professora que mais me atraía: a puta.
Meus sortilégios visavam sempre ao sacrilégio...Se o início foi com a rapariga, saí de onde havia tanta intriga e caí no mundo onde havia muita amiga sem nome, mas que saciava minha "fome"...
Era super-homem; imortal; detentor da juventude eterna...Ninguém me avisou que o que tinha tanto apego pode ficar como morcego: de cabeça para baixo e só então vem o sossego...
Fui zangão de muitas colméias; vivi muitas epopéias e, hoje, não tenho platéia, mas lembranças da edéia...
Quero meu bilhete de volta. Sei o caminho e não preciso de escolta... Mas, confesso: alimento revolta...
Logo agora com um ror de mudança, que é o maior barato, retornar ao mato deve ser muito chato porque lá ainda mora o recato e, assim, não vou alcançar meu desiderato...