BEIJA-FLOR DE MIM

BEIJA-FLOR DE MIM

Lílian Maial

Em que pese a gravidade e o tempo,

As chuvas, o vento, o predador,

O beija-flor paira no ar e busca, na flor,

Sua beleza, seu amor, seu alimento.

Não há solo firme, não há promessas, não há amanhã,

Apenas a necessidade instantânea de vida

E nesse desprendimento, pela estrada mais florida,

Voa frenético em sua certeza vã.

Não consegue parar de bater as asas

Precisa delas para seguir a viver

E como eu, entre rosas e espinhos morrer

Ou deixar acesa pra sempre a brasa.

Não teme, o beija-flor, o maior perigo

Por não conhecer, de pronto, quem o rodeia

E dentro da bela flor de onde suga a seiva

Encontra também o veneno e o castigo.

Voa livre, beija-flor, na primavera

Vai de encontro ao sol e à eternidade

Não dê margem à cobiça ou à maldade

Cubra-se de céu nessa longa espera.

Em seu bico, o doce e o amargo

Em seu corpo, as penas, furta-cor

Em seus olhos, a verdade e a dor

Em seu caminho, a leveza e o fardo

Suga, beija-flor, tudo o que pode

Leva a graça, a alegria, a luz, a cor

E partilha a ambigüidade desse amor

Que aqui torço por nós e nossa sorte.

**********

Do livro "Enfim, renasci!" - Ed Impetus

jul/2000