O Nosso Imaginário
Ah adorável gente que por mim passa
Alegre vou dizer-lhes que esse sol que brilha
É um sol tão altivo quanto os compassos de nossos corações.
Dia a dia, noite através de noites, durmo a pensar que talvez não haja
Coisa alguma que não seja só esse ímpeto.
De que ele brilha no horizonte gentil de minha vida.
De nossas vidas, igualmente.
Somos todos iguais bem sei.
Diferentes, porém iguais.
Nossa chama flameja com a mesma intensidade
Nossos corpos adormecem quase que do mesmo cansaço.
Nossos sistemas corporais, nossas emoções tudo, tudo
Arma cama sob os mesmos lençóis.
Escondemo-nos dos mesmos medos
Coisa que não poderia supor na minha juventude.
Nessa idade aonde nos achamos tão exclusivos e centrais
Não poderia supor gente que rossa em minhas vestes
Que padecêssemos dos mesmos invernos.
Que nossos corações sofressem pelas mesmas impetuosidades e desejos.
Podemos ter marcado a mesma página de um livro
E averiguado as mesmas palavras no dicionário da vida.
E não encontrado resposta para nada
E perguntas para quase tudo.
Podemos ter nos banhado nos mesmos rios
Contado as mesmas estrelas
E sido testemunhas dos mesmos açoites ou prazeres.
Deitados em camas, cada qual em seu lares
Ser acometidos pelos mesmos pensamentos.
E beijado bocas que outras bocas beijaram também.
Ter parado o olhar sobre as mesmas paisagens
Sonhado sonhos que similares são
Termos rido das mesmas incongruências
E chorado das mesmas dores físicas e emocionais.
Essa vida tem o mesmo dom de iludir
Que em épocas passadas de minha vida julguei não serem verdadeiras.
Sonhos que julguei serem só meus
Quantos os tiveram e eu não percebi.
A toda gente que passa
Há esse coração-mente
Que acha-se único na envergadura de um tempo impreciso.
E recorre aos mesmos temores e aos mesmos ardores
Que todas as almas de todos os tempos sentiram.
Que tudo passa pelos mesmos fenômenos
Da vida que se tem.