7. Em cada canto existimos


No escuro da noite nos passos que percorrem
as suas veredas estreitas e sombrias
existimos
Existimos na luz que nos alumia ou na falta dela
em cada brilho de estrela
em fuga cadente

Nos rios que correm e nas pedras mudas e cegas
no seu grito ausente
na marcha e no uivo do vento
nas pálpebras do tempo que corre e passa
na sede arfante do mendigo que cai em desgraça
existimos

Existimos na voz que se ouve e não ouve
quando fica encravada no fundo da garganta
e não grita
Existimos no punho fechado da revolta
na esperança da mulher aflita que sofre as dores de parir
e grita e grita
e amamenta o filho que mais tarde a há-de trair

No copo de vinho que se bebe
na côdea dura do pão que se come – é duro mas come –
na frescura da fonte onde matamos a sede
existimos
Na amora silvestre onde mitigamos a fome
no sol da manhã e na brisa da tarde
nós existimos também

Existimos na fé que nos guia quando não perdemos a fé
e por sorte a vida até nos sorri
Existimos enquanto pudermos gritar
e até que nos bata à porta a existência da morte (!)

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de "do Meu Grito em revolta in «do Meu Grito Sufocado»"

Alvaro Giesta
Enviado por Alvaro Giesta em 18/09/2008
Reeditado em 15/02/2009
Código do texto: T1184885
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