3. Sempre há Sul dentro de nós


Às vezes dentro de nós faz Sul.
E tingimos a noite de luz
mesmo sabendo que em nós, a noite
tem uma escuridão mais negra que o breu.
Espreita-nos dentro da alma nessas ocasiões
a luz mais suave e cândida que esse Sul tem.
Mas teima sempre uma lágrima teimosa
em toldar de penumbra e sombra essa luz
que em nós esse Sul floresceu.

Por isso escrevo-te
mesmo sabendo de antemão que jamais
receberás esta prosa. Mais poética
que outra coisa qualquer, que os letrados
no seu mau génio costumam classificar.

Por isso escrevo-te
apesar de não saber quem tu és
nem se te vais dignar a abrir o sobrescrito
e leres-me.
Mas não me importo que nem me leias.
O que quero, apenas,
é que saibas que, apesar de todos os revezes
que a vida tem,
sempre há Sul dentro de nós.

Ou, pelo menos, sempre se faz Sul dentro de nós.
Uma vez por outra. Sul. Sol. Calor.
E calor também, pois claro (!),
porque não há Sul sem sol e sem calor.
Ainda que mais das vezes o sul
também tenha fome e crianças estropiadas
e órfãos e mutilados de guerra,
que sendo do sul jamais saberão
o calor e luz que esse Sul em nós pode ter.

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de "Vértices do Tempo in «do Meu Grito Sufocado»"
Alvaro Giesta
Enviado por Alvaro Giesta em 18/09/2008
Código do texto: T1184960
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