ORAÇÃO A UM DEUS COLONIAL

Ó Senhor dos degredados

Deus dos alijados da terra mãe

Vós que insuflai as alvas velas

Com vosso sopro divino

Lançando em terras ignotas

Os filhos da lusa terra

Vós que nos fizestes senhores do ultramar

Nos destes a dádiva da posse destas terras

Inda coalhadas de cúpreos gentios

A nos olhar com espanto e certo encanto

Ignorando Vossos sagrados desígnios

Com olhos pueris e ornamentados corpos

Não há mal que de tão grande justifique

A amargura e a solidão do desterro

Nós pobres cristãos-novos e biltres

Esperamos Vossa Divina unção

Corroborando da terra a lusíada posse

Submetidos que fomos a sanguinária comunhão

Fazei com que se subjuguem os silvícolas

Que aceitem Vosso Divino arbítrio

Arrogando-se o natural papel de servos

De Deus e da mãe terra Portugal

Não permitas qualquer tipo de oposição ou embaraço

Que nos faça do gládio ter de lançar mão

Fazei Senhor com que estas terras nos prestem de pasto

E transformemos tais selvagens pagãos

Em cristãos sob o jugo da vossa sagrada cruz

Apartemos tais infaustos dos bárbaros deuses

Para que enfim vejam a luz da ocidental cultura

E de joelhos aceitem a lusa verdade

Ajudai-nos Senhor em tal empreitada

Que se instale a catequese sagrada

Que se arraigue sob armas ou verbos

Se não se curvam pela palavra falada

Cairão aplacados pelo Teu divino látego