Ahdkeidk

Ahdkeidk.

Hihj pjpoapog ooml kmdkimf lltyu

hinoo pok,ojon ojoommklk jif

oo jdnic jjin hjwinin lgoioinx dsetyu.

Ahdkeidk.

Hipx ojpnnd, obobbc,innnqpspn

iviinxwno nnonxwj,ononoikif

oo jgvs hixow ihonono mjnspn.

Ahdkeidk.

Hkno onnow hesfth nuadfr kuity

genuteari muits mkis mueatif

oo miugertad eratudio nuieradu kighty.

Poema numa língua (im)possível, num código por inventar, por isso inventável. Como todos os códigos, como todas as línguas (im)possíveis. É a forma radical da literatura, a poesia radical, nas suas origens, génese, início balbuciante, emergente. Escrever é inventar uma língua nova a partir de signos e regras estabelecidas. Mas a escrita literária introduz uma violação de sentido, “manipula” um certo material pré-existente para o transformar segundo o seu jogo único, torna a língua usual num produto inédito. Explodir a língua “fora dos seus sulcos habituais. Experiência delirante, do interior cria um corpo múltiplo que comunica com o exterior.

Aqui o resultado está para lá dos limites do delírio, quase esquizofrenia, as palavras são apenas letras reunidas. Significa que não saímos da língua – estão lá as letras a formar signos ininteligíveis, a sintaxe a formular regras -, contudo, o domínio é incomunicável, território de uma “assintaxe” e de uma “agramática” extrema.

Posso dizer: eu conheço esta língua, mas não a comunico, porque nenhuma comunidade a conhece, só o alfabeto. Língua do eu, dum eu exclusivo. E se o próprio alfabeto fosse (im)possível? As marcas do teclado não me permitiram ir por aí. Só desenhando.

Mas não é toda a literatura exclusiva?

O título deste poema é: esquizóide

Pense-se numa língua que é a reunião de todas as línguas, existentes e inexistentes, todos os alfabetos, toda a fonética, toda a semântica, toda a sintaxe. Toda a pragmática.

Não existe realidade sem linguagem e toda a linguagem desenha uma realidade. Nomear o real é inventar um nome – fora dos nomes não há realidade.

A literatura enuncia uma realidade, a realidade inventada pela literatura.

Exemplo: o mundo. Quantos mundos existem? Existem de acordo como os modos de fazer mundos, ou seja, os modos de enunciar o mundo. O que há são muitos mundos, o que há são sempre mundos por inventar.

Este poema é um mundo possível por comunicar.

Fim.

Início.