Que seja poesia...

Que seja poesia

as contruções de areia do fim dos tempos

á água salgada em que se banha os lamentos

o manto de neve que envolve os tormentos.

Que seja poesia

a bílis negra que esconde a garganta

escorre em universo sem planetas na boca do estômago

as águas amplas sobre as quais não pairam o espírito de Deus.

Que seja poesia

o rastro de sangue da estrela cadente

que cruza o céu em interrogação cortante latente

e desaparece em completo poente.

Que seja poesia

o por-do-sol que queima a colcha de retalhos disforme

a tesoura que corta o fio de ouro, num golpe,

torcido, velho, opaco, fraco, torpe.

Que seja poesia...

Que seja poesia...

Que seja poesia...

Que seja poesia...