UM BEIJO ENTRE AS AGUAS DO RIO
Entre duas montanhas
o rio seguia
o seu curso normal, sinuoso, banhado pelo sol
margeado por arvores frondosas
estavamos em pontos opostos
eu e ela
e, entre nos
uma ponte suspensa
formada por frageis sipos
em vez de cordas
gastas, tortas pelo tempo
e no lugar de tabuas
petalas coloridas
sobrepostas em toda a sua extensão
do ponto onde estavamos
fixamos o nosso olhar
temiamos aquela ponte atravessar
o sol tocava os nossos corpos
e o vento fazia os cabelos
cairem sobre os rostos
olhamos, pensamos, hesitamos
a vontade era enorme de nos encontrar
mas o abismo la em baixo
assustava, nos fazia parar e pensar
Andamos em circulos
levantamos os braços
ascenamos e estendemos as mãos
como se elas pudesem serem tocadas
a manhã levantava-se
o dia declinava
e as incertezas perduravam
uma gigantesca vontade
de tocar as mãos
mas o medo persistia
a insegurança, o receio prevalecia
de cair, de se esborrachar no chão
Nuvens cinzentas surgiram
raios, e uma tempestade se formou
e o pavor os fantamas
nos assediou, sobre nos pairou
e ficamos mais apreensivos
olhavamos na distancia
e as nossas silhuetas
ora eram visiveis
ora estavam cobertas por brumas espessas
mas, nossos olhos ainda assim
conseguia enxergar, ver a nos mesmos
chegavamos a ouvir
o som dos nossos sorrisos
contidos
abafados pelo barulho
dos confusos pensamentos perdidos
e o coração batia
em ritimos, em confluencias em sintonia
então o sol surgiu novamente
belo, intenso
e nos vimos por completo
e como num magico encanto
começamos a andar no mesmo momento
sobre a ponte de petalas
o som das aguas la em baixo
e o barulho da floresta
conspirava e parecia a nosa encorajar
a continuar
E, seguimos
temerosos no inicio
depois mais confiantes
mas, eis que de repente
as petalas todas se soltaram da ponte
o sipo qubrou, partiu, soltou
e mergulhamos numa queda
ficamos perdidos, sentidos
esqueciodos, sem historias, sem tempo, sem eras
e, nessa queda livre
parecia que tinhamos perdidos a nos mesmos...
Mas, as petalas todas soltaram-se tambem
e cairam junto com nos
sobre nos
e foram se acomulando
em nossos corpos
foram se juntando
parecendo formarem azas
que atenuaram a nossa queda
então planamos
e sorrimos e ate cantamos
e caimos num mergulho
suave no meio do rio
gotas de agua
esparramaram-se sob o impacto
de nossos corpos
como a celebrar, num cortejo
e, emergimos juntos
rostos proximos
mãos unidas
e labios que se juntaram
num belo
intenso
demorado
e apaixonado beijo