O não se saber ser
Noite fria de inverno de um agosto qualquer.
Não, não importa a contagem cronológica do tempo... Importa como ela se sente neste momento em que se recebe – ela mesma - de volta.
O gesto simples que se repete, porém com papéis trocados: Agora é ele que abaixa a cabeça, abre o fecho e segura a corrente com muito cuidado...
Há algum tempo fora ela numa noite morna de outono, que fizera aqueles mesmos movimentos...Executara a mesma coreografia...
Naquele momento, ela estava se dando. Doando.
Agora, mesmo não estando preparada, ela se recebe.
Labirintos... Leões... Falcões... Brilham pendurados na corrente, refletem o olhar assustado de ambos.
Um misto de medo e ansiedade. O que ele fará agora que não a terá colada em seu peito, acompanhando o batimento do seu coração?
E ela. O que ela fará agora que está se recebendo de volta depois de tanto tempo, como será se receber, a si mesma, de volta? Como será ver novamente uma outra parte dela, todos os dias, ao se olhar no espelho...
Como se recebe a nós mesmos de volta, quando já nos acostumamos a estar em outro?
Beduíno que retorna ao seu povo, após longa jornada pelo deserto.
Sua garganta está seca...