Inferno Frio

Por baixo da camisa de malha

Tremia a timidez que ardia

E na doce paixão silenciava

Aquela mulher que te cabia

Mas a lingerie vermelha exaltava

Envolvia a pele macia em brasa

Entre delicadas rendas espreitava

Vazando em fendas a Deusa disfarçada

Que se continha, sedutora e paciente

Aguardando de ti um só movimento

Para que explodisse em lavas invisíveis

A enlouquecer-te em prazeres indizíveis

Mas perdeste o gesto, simplesmente.

Bastava livrá-la da imensa camisa

E chegarias ao Olimpo naquela noite quente.

Saberias o exato sabor das ambrosias.

Vislumbrarias como os deuses se amam

E com quais sortilégios tramam os dias...

Agora te debates em silenciosa agonia

Te escondes da Deusa na hora tardia

Que te vê do alto, e se entedia.

Apaga o fogo da Pira.

E te aponta - displicente - a ira.

Condenado a vagar cego, louco e irônico

Édipo sem Eletra a zelar-te a alma vazia

Viverás escravo, apático, sem brio

Para enfim chegares ao inferno, atônito.

Porém não te esqueças. O inferno da Deusa é frio ...

Claudia Gadini

19/02/05