Um certo estranho.

Hoje eu ouvi um menino no metro, que não era bem um menino, era mais um rapazinho, assim meio que da minha idade. Ele era conhecido, não sei bem de onde, mas o conhecia, ele e sua constante nuvem de fumaça que vinha de seu eterno companheiro cigarro.

Ele disse uma frase intrigante, tão intrigante quanto seu chapéu preto e sua gravata frouxa e vermelha, era algo como:"Ele sonha em ser filósofo, e sonha em ser profundo. Acaba sendo um pré-fundo".

Eu por minha vez, como uma criança inocente do julgamento alheio, ri. Sozinha, sentada num canto do vagão olhando o dia acinzentado pela janela. Não sei se ele percebeu. Queria ter-lhe dito que não ria dele, ria da simplicidade com que dizia aquelas palavras tão significativas, como a água.

Percebi que também sonho. Não em ser pré-funda. Mas em viver em um lugar onde as pessoas não anseiam ser o que não são. Sonho em viver em um lugar onde as coisas e pessoas, não fazem pressão para termos esses anseios. Sonho em ter uma família. Ter filhos e ser feliz.

Até lá, continuo aqui sentada na janela do último vagão escrevendo sobre um história de poucas estações, de um estranho que nem é tão estranho assim.