Homenagem ao Dia Nacional da Poesia - Sabem-me as mãos

Para ti poesia que sabe de mim, o que eu ainda não sei...

Sabem-me as mãos

Quando, amiúde

Ensaiam vôos de letras

Suspensas em suspiros

Entrecortados versos

De segredos e precipícios

Mãos que transbordam

Rasuras, oceanos e desertos

Sabem-me as mãos

Quando anoitecidas

Bocejam a angústia

Do olhar insone

Que não se reconhece

No espelho que o espreita

Pará cá do que se permite ver

Apenas a vida branda

Em enganadora sensatez

Sabem-me as mãos

Quando se deixam pendidas

Estendidas em nuvens

Parindo-me novos horizonte

Ou a navegar nas águas turvas

Onde os olhares mergulham

Em cicios, dissonâncias e sussurros

Confrontando a solidão da alma

Atravessada em indagações

Sobre o respirar da vida

Sabem-me as mãos

Quando vem do gris a palavra

Que se dissimula em quietudes

E o eco é a dor que cala

O frio corte da solitude

Em que se rasga o sentir exangue

Sabem-me as mãos

Que me alforriam algumas palavras

E me amordaçam outras tantas

Estancando a chaga dos lábios

Com torniquetes de silêncios

Contendo a caligrafia

Que sangra o teu nome, a saudade

Fernanda Guimarães

Fernanda Guimarães
Enviado por Fernanda Guimarães em 14/03/2006
Reeditado em 25/08/2008
Código do texto: T122991