A MENINA AFEGÃ - Regina Lyra

A dor de ver face tão bela

Seqüestrada pela brutalidade do homem,

Ao mesmo tempo em que se parece com a face da nordestina,

Do sertão desses Estados, carregados de dor,

Fugindo da seca que amaldiçoa a terra, o homem, os animais,

Transformando-se em marginais de si mesmos.

Perseguidos pelo clima e pelo crime

De estarem numa terra pobre,

Castigada pela seca e pelos homens.

Em pouco tempo, face tão bela envelhece,

Coberta pelos panos que evitam o pecado

Ou pelos panos que a protegem do sol,

E aquele rosto expressivo nos olhos, na boca,

Na face desenhada, por pintor ou escultor...

Em pouco tempo envelhece, pela tristeza e dissabor.

Parece a avó idosa daquela face

Entretanto era ela,

Que se transformara em velha

Antes de o tempo chegar.

Aquela face tão bela

Nunca viu a cor rosa, vermelho, anil,

Esteve sempre coberta pelo preto

Que lhe tirou o viço da juventude

Esmagada pelo homem da sua terra.

Mas mesmo assim, contrariando as regras,

Sobreviveram ao seu tempo, sem a face tão bela.

(IN: I Antologia Portal CEN. Londrina: Ed. Modelo,2004

Regina Lyra
Enviado por Regina Lyra em 18/03/2006
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