Vazio
Angélica T. Almstadter
Você vê o tinteiro vazio?
Enxerga as telas em branco?
Sabe onde se esconderam as palavras?
Pois andam todas no meio fio,
Por causa do verbo franco.
As reservas estão abarrotadas,
Mergulhadas em aflição,
E não brincam mais nas ante-salas,
Envergonhadas; vagueiam desbotadas,
Carregadas de solidão.
Não me peçam explicações...
Um dia amei a euforia dos ventos,
A simplicidade dos filamentos,
Tecidos na boêmia das paixões.
Foi tanto acúmulo de verdades
De versos transcritos sem paz;
Que morreu cego de saudades
O amor recheado de desejo voraz