A chuva e o sonho

Outro dia estava na sala vazia ouvindo música,

Era tarde, o trem já havia descido da serra e a chuva...

A chuva que lindo!... Rabiscando a noite quieta,

Em tons de Sá...

Pó... Na grande lagoa.

As flores ao redor dormiam a brisa fria que residia entre o silêncio da noite e o mato,

Quando de repente eu concentrado buscando a luz...

Minha filha surgiu ao meu lado,

Com aqueles cabelos loiros encaracolados,

Meio que sem jeito, mas meio que dona,

Meio criança e meio a meio se interpôs as minhas pernas.

Carregou as minhas mãos a facerar-lhe o rosto.

Tomei-a no colo por um instante e mostrei-lhe a escuridão que lá fora se escondia no meio daquela lagoa.

Sem muito entender, um sorriso seco brotou em meias palavras do verbo que sua boca e a cabeça confundiam.

Ela me arrastou para o chão a rolar, brincar... Festejar a vida naquela hora incerta.

A chuva pacientemente aumentou o tom e entre risos e brincadeiras ficamos adormecidos pelo chão da casa.

Quando o dia disse sim, era sonho, pois a criança que brincava já era moça. Os meus cabelos esbranquiçados eram denunciados pelo espelho... Havia prédios por todo o lado.

De súbito não existia mais o lago, o trem não vinha, a chuva há anos que não se tinha e aquela casa já era um supermercado.

Quando eu resolvi brincar com a minha filha, o tempo já havia passado, já não se tinha mais idade.

Alberto Amoêdo
Enviado por Alberto Amoêdo em 03/11/2008
Reeditado em 18/12/2009
Código do texto: T1264110
Classificação de conteúdo: seguro