QUEM SABE?!
Quem sabe eu não deixei de ser
A menininha desalinhada
Que ia para o Jardim brincar de estudar
Quem sabe não deixei de ser
Aquela garotinha que fantasiava
Brincava de boneca e de lanchar
Aquela moreninha de cabelo escorrido
Que adorava balões coloridos
E festas de aniversário
Aquela garotinha inteligente
Que tirava boas notas, era competente
Que tinha um sorriso hilário
Quem sabe não deixei de ser
A garotinha apaixonada
Que escrevia cartas de amor
Mas nunca mandava
Que sentia muita dor
E nunca contava
Que brincava com lápis de cor
Aquela que desenhava casinha
E paisagens com o pôr-do-sol
Que amava as férias mas sentia saudade
Da escola, professores e da amizade
Aquela que durmia na viagem
Que chorava com o outro tom de voz
Aquela que queria um pouco de atenção
A garotinha que odiava judiação
Que gostava de ler
Enquanto todos assistiam televisão
Aquela garotinha que tinha defeitos
E que na cozinha nada fazia direito
Aquela que pra muitas coisas não levava jeito
Que sonhava com os olhos abertos!
E que amava o cara incerto
Quem sabe não deixei de ter
Aquela incrível carência
De estar com todos e se sentir com nada
Que enquanto garotinha
Já parecia gente grande
Aquela filhinha de papai
Que gostava do abraço dos seus pais
E que brigava com os irmãos
Quem sabe não deixei de ser
Aquela que mentia pra escapar da bronca
Que sequestrava livros para ler em casa
Que ia a qualquer lugar pra entrar na dança
Aquela que nunca foi mimada
Quem sabe não sou a moleca
Que conquistava os objetivos, sapeca!
E que teve orgulho de conquistar tudo
Com uma galera atrás trabalhando mudo
Aquela que se abaixava com humildade
Para deixar passar aquele ser em total vaidade
Aquela que deu seu mundo
Por um pouco de paz
A garotinha que nunca mostrou tudo que era capaz
Aquela que deixou o amor da sua vida
Por um motivo fútil, era a única saída
E que hoje lamenta no seu travesseiro
E hoje tá sozinha, e seu amor solteiro
Aquela que não consegue dizer ainda o que quer
Porque se preocupa com o que o outro disser
Aquela que ainda não perdeu a razão
Mas que ainda pede um pouco de atenção
Aquela garotinha que não desaprendeu
A arte de chorar pelo que era seu
Quem sabe não deixei de fantasiar?
Quem sabe não deixei de amar?
Eugênia ~> 04 de novembro de 2008 ~> 20:35