Fim de tarde.
Passeando pela alameda da nostalgia
Deparei-me com o rio da minha infância.
Um rio e uma ponte.
Um pequeno barco.
Um menino, uma canoa.
Nas mãos um comprido bambu,
Movimentando a paisagem.
Quanta semelhança com o guri
Que fui aos dez anos.
O mesmo boné de feltro quadriculado,
Calça curta presa por uma só alça de suspensórios,
A camisa, suja das brincadeiras
Presa por um só botão.
Os óculos “fundo de garrafa”
Escorregado no meio do nariz.
De algum lugar conhecia aquele petiz.
Olhamo-nos longamente...
Imagem de fotografia antiga.
A tarde encolheu devagar,
Afastou-se o barquinho
E o menino de pés enlameados também.
Nem sequer um aceno...
O passado não se despede.
Dei as costas aos últimos raios de sol,
Ergui os óculos,
Ajeitei o boné quadriculado,
Engoli a bílis amarga da saudade,
E segui.
Nômade, errático, andejo.
Cativo das minhas fotos desbotadas.