CRIME CONTRA A INFÂNCIA

O ano letivo começou

Realizo atividades com os alunos

As quais vão ajudar

A conhecer a realidade

Em que os mesmos se encontram

Para, a partir dela avançar

Conhecendo suas dificuldades

Peculiaridades e necessidades

Essa avaliação diagnóstica

Sempre me deixa estarrecida

Embora a faça a cada início de ano letivo

Nunca me acostumei com seus resultados

Crianças que estão na escola há muitos anos

Algumas já se encontrando “fora de faixa” (etária)

Tantas foram as repetências e evasões

Pelas quais passaram

Hoje, na quarta série do Ensino Fundamental

Não sabem ler nem escrever

Não sabem pensar

Não têm idéias próprias

Só fazem cópias

E repetem o pouco que aprenderam

Feito papagaio!

Sinto vontade de chorar

Comovida com a triste sina dessas crianças

Marginalizadas

Excluídas

Enganadas

Que em sua inocência

Dizem que a responsabilidade

Do seu analfabetismo é delas próprias

Não é do professor

Que lhe abandonou

Não é do poder público

Cuja educação nunca priorizou

É delas mesmas

Que não “tem cabeça para aprender”.

Não sou melhor do que os colegas

Por quem essas crianças passaram

Nem sei mais do que ninguém

Mas assumo (a cada ano)

O compromisso com elas

Comigo mesma e com Deus

De devolvê-las à sociedade

Como cidadãos do mundo

Com uma formação científica

Ética e cristã

Capaz de fazê-las competir

De igual para igual

Com as demais crianças.

Selma Amaral
Enviado por Selma Amaral em 23/03/2006
Código do texto: T127245