Abopuru

E agora, João?...

Saímos do Estado sem saída

Para o Estado de Democracia.

Caminho com o meu sorriso.

Vou e venho com os pés que piso.

Se me param,

Se me ameaçam,

Se me lesarem o corpo...

Eu grito identificando o louco.

Não precisamos mais nos esconder,

Não precisamos mais temer o medo,

Não precisamos mais hastear a bandeira na frente da escola e

Quando se volta para dormir assiste-se a tudo sem censura de hora.

Mas e ai?...

Procuramos mas não temos emprego,

Muitos moram sob o viaduto;

Muitos moram no lixão;

As filhas mais bonitas são prostitutas;

E os filhos que não chegaram à escola;

São soldados do crime ignorado.

Já não sabemos ao certo o que é cultura,

Nossa música nas rádios durante o dia se atura.

Nossas novelas a noite são modas e uma vida na lua.

Os livros são caros demais.

E quase todos os dias há mortos nos bairros,

Vivemos entre os muros, grades e uma grande covardia.

Pagamos diversos tributos,

Mas nada se faz com seriedade.

Não há hospitais de qualidade,

Não há escolas de verdade e a

Segurança é um faz de contas sem idade.

O trânsito é um crime,

A poluição é desordenada e a

Economia é uma maresia de água parada.

As praças são algores.

Cada um faz o que quer.

O povo mudou de religião...

Abre seis ou mais templos num quarteirão,

Mas é nos bares, que estão reclamando em sermãos.

O país só é patriota nas copas.

Todos querem ser o Gerson da seleção,

Mas ninguém sabe ao certo para onde continuam indo os

Milhões.

Na nossa nova ordem, apesar da globalização das informações,

Temos tantos desinformados, que os ignorantes,

Da revolução, perto desse povo, são artistas de uma civilização.

O país se partiu,

Numa democracia que nunca se viu.

Voltaram para casa quem fugiu,

Pois quem ficou serviu de asfalto na situação.

Cantaram o hino nacional,

Prometeram no cerimonial

Honrar a Constituição Federal,

Mas o que se ver, desde a escravidão é o aumento dos miseráveis pelo chão;

Mas o que se vê é a floresta em fogo ou tipo exportação;

É o serrado mais seco que no verão.

E o país se partiu...

Entre Gregos, índios, caboclos e Africanos.

Hoje votamos,

A mulher trabalha,

Mas os filhos assaltam nas ruas.

Contudo posso dizer o que quiser contra o Estado!...

Posso informar quem me ameaçou ou me bateu,

Posso rir ou chorar,

Criticar também posso...

Essa liberdade também agradecemos,

Agradecemos aos que desenharam democracia com gritos,

Corpo, suor e sangue.

E ai?!...

Mas ainda estamos sem emprego,

Não temos casa para abrigar a família,

Nem o que dar de comer aos filhos e filhas.

E ai?!...

Mas quem esta no poder, são os que se intitulavam filhos da democracia.

Será que fica longe dizer do fazer?...

O que será que será?...

Que acontece atrás da bandeira?

Estamos num exílio democrático.

Não sabemos se vivemos,

Não sabemos se morremos...

Se morremos,

Morremos mais de balas,

Morremos mais de vícios...

Morremos mais de fome.

Nessa desordem de tudo o que é nome;

De tudo o que é homem;

De tudo o que é mulher;

De tudo o que nem sei mais quem é...

Se é homem ou mulher,

Parece que estudar é pecado,

Parece que trabalhar é papo furado

E ser cidadão, então, ai é que é errado.

A sociedade ainda é hipócrita,

Pois prefere pagar a morte do homem,

Do que fazer o futuro de crianças.

E sendo assim, com tudo de ruim,

E agora, Maria?

Maria para onde?...

Parece que é melhor ficar preso, que se tem casa, não se faz nada, tem roupa lavada e pão.

Alberto Amoêdo
Enviado por Alberto Amoêdo em 11/11/2008
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