OCULTO

Você!...

Simplesmente você...

Em qualquer gesto,

Em qualquer olhar,

Segundos de atenção...

Não é a flor em sua perfeição;

Não é a luz em sua luminosidade;

Não é a voz de toda a humanidade,

Mas é você...

Você que surge da ferida aberta;

Que surge da necessidade da alma alerta...

Surge da arte,

Você que no quadro do pintor é a pura paisagem;

No riso inocente de uma criança a essência da idade;

Você... Poesia sem qualquer efemeridade.

Talvez nem seja a princesa da cidade,

Mas foi quem, em todos esses anos tocou o meu coração.

Em muito que vaguei,

Em muito que sonhei,

Sofri... me perdi de mim.

Em muito que venho procurando...

Entre erros crassos e acertos ínfimos...

Entre paredes e concertos...

Você...

Você me fez renascer.

Já não enxergava nada além da esperança,

Nada além de uma sincera solidão,

Conformada na essência da matéria;

Já não havia mais prazer,

Sobretudo vida,

Vez que o meu olhar se resumia a um horizonte de mentiras, intrigas e muita dor.

Andei por muitos portos,

Viajei sem direção,

Sofri, sofri e a cada dia morri,

Levando comigo tantas pessoas boas, que nunca as vi partir.

Fiz reféns, magoei friamente e depois, bem depois, diante do espelho...

Em verdade morri.

Escravo do nada, escravo de mim...

Não consegui viver, fazer viver, sem sucumbir a dores que se alastram e se resumem em partos de insônias no meio da noite.

Em cinzas de loucuras me misturei ao vento,

Deixei-me insanamente ao relento.

E quando eu pensei que não havia mais vida no mundo;

Quando pensei estar caminhando entre os mortos urbanos;

Quando me vi sem perspectivas, lá no escuro do abismo,

Vi você.

Algo tão puro.

Tão puro que fez formar o seu nome na essência do peito,

Surgindo quieta meio que sem jeito, como se fosse sonho,

Mas és real...

Tão real que te tornas sonho.

Sonho?!...

Sonho porque não posso te alcançar.

Não vou ousar te enfrentar, querendo te ter e te perder num sempre amargo,

Que eu irei herdar pelo resto dos anos.

Afinal o amor que tens, pelos teus olhos, pelo teu destino,

De certo não me és peculiar.

Não sou de todo ilusão,

Bem sei o meu lugar e não posso ir além da razão.

Aliás, já me bastou ter te conhecido.

Em breve, vamos nos perder de vista e já me basta ser a lembrança amiga;

Já me basta ter você como a poesia envolvente.

Já me basta saber que em qualquer lugar dessa paixão omissa,

Mesmo sob um sonho, mesmo sem saber...

Fizestes-me feliz.

Não era pra ser assim, porque na cidade a voz, as mãos e as cores são resumidas em horas estranhas.

E nós, passageiros da vida, só o que temos a fazer é o mundo juiz de uma incontável sensibilidade.

Já me basta olhar você...

Não iria suportar ouvir da boca a tradução dos palavras me ferindo...

Me ferindo, por isso adeus!

Alberto Amoêdo
Enviado por Alberto Amoêdo em 12/11/2008
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