poemário
"certas conchas se abrigam em mim..." - [manoel de barros]
*
a realidade arde
à minha pele enrugada
de solidão
túmidas rugas que
ao passar dos dias,
sangram, venosamente,
e azulecem à frágil tez,
o olhar lacrimeja
à insuficiência do tempo.
[os verbos abandonam
a narrativa da fala; a língua
desfalece. somente
o olhar disperso ao nada]
rompe-se o tempo
à fissura do imediato
e palavras se enrijecem
ante o insondável e a
ternura, essa brandura
do sentir e dizer, amorosa-
mente, perde-se e
o abandono invade a boca,
porém, tudo se explica
quando se está prenhe de afeto
a ternura possui
nuances à contemplação
.