HYÁKINTHOS

HYÁKINTHOS

Ao ilustre poeta lusitano,

João M. Jacinto.

http://joaojacintopoemas.blogspot.com

Mirem o poeta Iwan

à beira do Tejo,

seus olhos melancólicos se alevantam,

e as Tágides esculpidas em lápides

de mármore branco

atiram-lhe a última flor.

Mirem as mãos do poeta,

nelas Hyákinthos traz liliáceas flores de jacinto,

e ele tece uma guirlanda

para coroar os azuis do oceano.

A flauta de Pã não mais se ouve,

e o versejador Lusitano converte em dor

o canto à gente assinalada

da última Terra-flor.

E do peito dolorido do ilustre Lusitano

brota o belo canto...

E as Nereidas, há tanto tempo adormecidas, despertam,

se enternecem,

encurvam as gigantescas ondas, e assim

abrem caminho na atlântica costa à costa...

E surge um imenso mirante tão longe tão perto,

e muito à distância avista-se o rútilo horizonte,

e Iwan contempla o sol do Novo Mundo,

do Portugal Tropical...

Ele mira, então, a Terra à vista,

os Portos de madeira vermelho-violáceos.

E Hyákhintos ouve a voz do cantor:

Iwan, mira-me,

eu sou homem-flor,

ainda que... a Musa antiga já não canta,

eu sou a última flor que se alevanta,

eu sou a árvore-brasil,

de vermelho encarnado,

a árvore de Cristo,

eu, brasileiro,

em cujos vasos de lenhosos galhos

circulam o sangue vinho tinto

de Baco e do seu fiel Luso...

Aqui dormem os seus deuses

em matas encantadas.

Iwan, eu sou o Outro,

terna partilha de você,

a nova gente,

a Nova Lusitânia que se alevanta,

a última flor,

a língua materna...

... e do Reino que se desfez,

o Fado do meu vovô português:

Vovô, vovô, que foto é esta?

Ah, ela é antiga, é de 1906,

veja ali, ainda jovem, ao fundo... sou eu,

este é o porão de um navio, de imigrantes Lusitanos.

Vovô, e quanto a estas pessoas, todas elas sentadinhas,

em silêncio, e lêem vovô! afinal lêem o quê?!

Elas lêem a Saudade,

todos lêem o Amor a Portugal.

Prof. Dr. Sílvio Medeiros

Campinas, é primavera de 2008.