Sopro

Pareço sentir novamente.

Há a brisa morna

que toca e enforca

a razão que,

mentirosamente,

tento seguir.

Corta meus olhos

fechados e cansados

do ver-me tão

outro no espelho;

invade viril

minhas narinas sádicas

e cortadas.

Da brisa respiro,

sufocando o calar

que matava-me a idéia.

Dispo-me deste jeans

e das camisas de golas estreitas.

Dispo-me de toda a

enganação que fui de mim mesmo,

por não aceitar

quem sempre era.

É desta brisa que tenho a resposta

de minhas perguntas tão estúpidas

e sem voz.

É nesta brisa que transcendo

e volto ao meu eu tão único:

A verdade da alma

estranha;

a pureza do mal

inventado.

Traz a mim

palavras sorrateiras,

boêmias e que caçam

linhas tortas,

a endireitar o fluxo

fugaz e assassínio

do pensamento.

Sim!

Carrega a brisa

toda a fonte de pecados

e dizeres mal(-)ditos.

Planta no solo fértil

de minhas páginas

as sementes do bem

irremediável e

do repúdio a

nossas máscaras cotidianas.

Estou de novo

a sentir o arrepio

advindo do sopro

dos cânticos

sinistros e majestosos

das musas depravadas.

Meus pés

descalços mais uma vez

no gélido e instável

chão de versos

e estrofes esquálidas.

É esta brisa

que me devolve

a mim mesmo.

Ressurge minha alma

irradiando o discurso

sangrento e rebelde,

que outrora calara-se.

O poeta,

negro e circunspecto,

volta e estremece

pernas com prazer

e terror.

Sua palavra é mais seca

e menos doce.

É real e

inerente

à beleza contente

dos dentes que

sorriem a qualquer rima.

Está na brisa

minha inspiração

e o sentido

sem qualquer sentido,

ou métrica que

se espere.

Está no ato de

fingir ser o fingidor

do que não sei fingir:

Poeta,

e só.

Raul Furiatti Moreira
Enviado por Raul Furiatti Moreira em 21/11/2008
Reeditado em 24/11/2008
Código do texto: T1295468
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