O Pão Pra Comer, O Chão Pra Dormir, O Deus Pra Não Crer

Ele grita ele grita

Ele berra mais que nós

Ele vive na rua

Ele dorme no albergue

E se arrasta indiferente

Entre quem se acha gente

Ele grita ele grita as verdades

Que ninguém desacredita

Ou tem coragem de ouvir

E aí ninguém lhe dá ouvidos

Porque isso dói demais dói demais

Ouvir o que esse pobre homem

Vive a dizer

Ele grita ele grita

Ele berra mais que nós

E ainda assim gritando mais alto

Ele é quem menos tem voz

Ele eté se cala por um prato de comido

(Silêncio momentânio da boca cheia)

Ele canta Roberto Carlos depois da dose pinga

(Alívio momentâneo da embriaguez)

Ele está abandonado

E critica os enjeitados

E critica os ajeitados

E os ricos e favorecidos e encaixados

Ele grita ele grita

Ele berra mais que nós

E ainda assim gritando mais alto

Ele é quem menos tem voz

Não tem onde cair morto

O que arrebata o medo da morte

O medo da vida o medo de tudo

E critica um governo

E critica os governos

Me critica às vezes me critica

E me pede um trocado

Ele grita ele grita

Ele berra mais que nós

E ainda assim gritando mais alto

Ele é quem menos tem voz

Não tem Deus e não quer ter

Não tem voz não tem vez não tem nós

Vez tem fome e não quer ter

Mas eu sei que em silêncio

Bem baixinho no seu canto

Viaduto vendo luzes muitas luzes

Ele chora em segredo

Pela dor de não poder

Participar ou pertencer

Dessa zona de concreto

De animais vestindo ternos

Que chamamos de cidade

Ele grita ele grita

Ele berra mais que nós

E ainda assim gritando mais alto

Ele é quem menos tem voz

Gabriel Caetano
Enviado por Gabriel Caetano em 21/11/2008
Código do texto: T1295902
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