Trovas de Ciclotimia
... num cérebro, caos de ante ontem
depois de amanhã, primavera
ontem não houve o homem
do amanhã, maçã e espera.
Futuro, ousa sonhar
Éden em tempo de espera
foco de fogo e amar
verão folha verde e amarela
Matizes deste Brasil
que de branco enlouquecido
ao azul-pálido, anil
roxo lábio esmaecido,
de quem morreu sem beijar
Elvira, a morta virgem
Yara, dos rios , margens
praias , marés de Iemanjá.
Somos muitos somos um
marrom glacê, feijoada
canto Gregório, Ogum
Chentsrowa abençoada
Gralha azul rompe geadas
lança da pinha a seta
pinhão em grimpa assada
não conclui as minhas metas.
Inda falo do Amazonas
do nordeste, pantanal
falos a derrubar zonas
Exu a benzer-se ao mal.
Que mal tão grande não há
igual matança de hoje
ao ciclo dos tracajás
uirapuru canta e foge.
O fogo não obedece
à cadeia alimentar
meu coração adoece
de, por ti, não se queimar.
Sobressai a sapucaia
ao ofertório do Ipê
Rosa levanta a saia
orquídea aberta se vê
Nasce de novo no mangue
esculturado em marisco
meu coração ex-exangue
forte, força de obelisco.
Morre, the great Amazonas
pequenas secas, enfartes
verde era a negra zona
quem chega mal usa e parte.
Fica areia do Nilo
deserto, futuro não
na consciência um grilo
Amazônia, nunca mais?
Acima do bem, do mal
longe em ilusão de estrelas
na estação espacial
não há pizza, nem panelas.
Noite de amor virtual
maquio-me à webcam
sonho Toulouse Lautrec
Molin Rouge, absinto, Can-can.
...ante sonho de ante ontem
depois de ontem a fera
o homem matou o homem
e esvaziou-se na esfera.