Suaves Delírios

Sopro-lhe ao rosto pó de ouro fino

Dourando-lhe os cílios

Em suaves delírios

Tornado-lhe brilhante o rosto

Ausente de qualquer maldade

De qualquer pensar

Desenhos que no ar não se desfazem

Que a água não faz perderem-se

E que meus dedos não marcam.

Brilho intenso contraste em teus olhos.

E o dia vai alto em outro lugar.

Ainda faço-lhe beijar as flores

Percorridas em meu corpo,

Enfeitando-lhe em pleno dia

Buquet humano de minhas horas

Perfumes de minha vida.

Ah, que se o dia vai alto em outro lugar

Que vá, não será em vão,

Esse pó que lhe doura a face

É meu sim, meu não...

É meu beijo acendendo

Uma expressão sua.

Sopro-lhe nas palmas de suas mãos abertas

Uma palavra doce

E as repouso em peito meu

Para que sinta em ressonância múltipla

Meus batimentos e a palavra soprada e guardada

No alto corpo que vive, por acaso, ainda.

Misérias humanas não quedarão

Em teu rosto espargido de ouro

E aonde sua mão repousa em meu peito

Não fenecerá nem mesmo à sombra de um instante

Meu coração ondulante.

E mesmo que o tempo me vença

Sobrará ainda como restos por sobre alguma cama

O meu silencioso esqueleto

E suas mãos sopradas de palavra doce

Repousadas por sobre meu peito.

Anaís
Enviado por Anaís em 30/03/2006
Código do texto: T130993