Suaves Delírios
Sopro-lhe ao rosto pó de ouro fino
Dourando-lhe os cílios
Em suaves delírios
Tornado-lhe brilhante o rosto
Ausente de qualquer maldade
De qualquer pensar
Desenhos que no ar não se desfazem
Que a água não faz perderem-se
E que meus dedos não marcam.
Brilho intenso contraste em teus olhos.
E o dia vai alto em outro lugar.
Ainda faço-lhe beijar as flores
Percorridas em meu corpo,
Enfeitando-lhe em pleno dia
Buquet humano de minhas horas
Perfumes de minha vida.
Ah, que se o dia vai alto em outro lugar
Que vá, não será em vão,
Esse pó que lhe doura a face
É meu sim, meu não...
É meu beijo acendendo
Uma expressão sua.
Sopro-lhe nas palmas de suas mãos abertas
Uma palavra doce
E as repouso em peito meu
Para que sinta em ressonância múltipla
Meus batimentos e a palavra soprada e guardada
No alto corpo que vive, por acaso, ainda.
Misérias humanas não quedarão
Em teu rosto espargido de ouro
E aonde sua mão repousa em meu peito
Não fenecerá nem mesmo à sombra de um instante
Meu coração ondulante.
E mesmo que o tempo me vença
Sobrará ainda como restos por sobre alguma cama
O meu silencioso esqueleto
E suas mãos sopradas de palavra doce
Repousadas por sobre meu peito.