Como Uma Prece: O Uivo do Lobo
I
Os campos e a relva
Manifestam a vontade da selva,
E não há névoa, não há treva,
Nada se perde e
E tudo se seva,
Grades muros e concreto,
Milhões de círculos
Indiretamente cobertos
Fazem parte da lei, da lenda...
E não há partilha
E menos ainda vento que abasteça
A pilha... que mostre a trilha,
A quadrilha é dança,
Nela se aprende
Ou se dança...
Mostra tua lança
Derivado de poder
Pois o que se alcança é o que se toca
E não o que se entoca
No buraco cego do existir,
Sabe-se que não há para onde ir,
Embora o cálice
Esteja já vazio
Há tempos
Temporária é a sede
Da eterna
Embriaguez;
II
Há luas homens são
Enforcados
Ao ignorar a lei, a lenda...
Arme-se então em tua tenda
Containers de merda
Serão jogados em tua cabeça
Indiferentemente qual seja
A tua crença Óh! Fábula,
Turbilha teus contos de maldade
E prepara o herói ingênuo
Para adentrar na batalha,
Porque cega é a mortalha do jogo,
Logo não haverá heróis,
Todos serão coadjuvantes
Neste filme de cawboy.
III
Homens inatos rasgam a seda
E dela tecem suas teias
E vã é a seda e a teia...
Tudo é vão
Senão o que se faz em vão,
Jaze, hipérbole da imaginação!
O mundo cresce em
Paredes de concreto e palha
E a justiça tarda e falha
E promete-se todas as jóias
E colhe-se todo o joio,
Cavaco, o próprio caco
Que corta a cortina
Que pinta a Sistina
No tombo, na queda, no frasco,
Que balança o coração fraco
Que trança o próprio cavaco
Do trôpego, dos trópicos,
Relógios que giram desconexos
E tornam a repetirem-se
Como fórmula, como fábula
Como endereços que jamais
Chegam ao destino
Do menino que almejou ser Deus.
IV
Vertigens ao amanhecer,
Espera a longa epopéia
Um sinal de melhora do verso,
Sapiente é o verso
E insistente é o ridículo
Poeta que trava batalha platônica,
Ceia tuas palavras poeta
E vomita em seguida,
Pois teu fígados está às traças,
Às desgraças, às margens
Do náufrago que bebeu todo o mar
E agora sente o sal queimar o reto.
Loucura é o que se pensa
Sobre a própria loucura,
Devaneio é acordar ao amanhecer...
Dou-lhe uma esmola então
E jogo-lhe na masmorra
Se no acaso do teu cego ego
Não souberes onde guarda
As chaves da percepção,
Tenta juntar minhas moedas
Que atiro-lhe mais moedas,
E ao juntar estes níqueis
Jogarei-lhe uma cédula...
E se não responder-me
O porquê de curvar-se
Destruo todas tuas células, infante.
Rompa a inércia do céu
E façamos como as nuvens
Negras de chuva: criemos os raios.
V
Brecaram em certo tempo
A vontade do homem se expressar
Frente a tamanhos gigantes,
Todos como os de Cervantes,
E numa noite de chuva queimaram
Os livros e todos os silvos
Apontaram o único culpado
E eis que agora testemunho
Contra tua fé, contra tua crença
Contra o mal que habita
O frasco fraco,
O Fausto idólatra
Que ao negar
Tamanha insignificância
Construiu alicerces de feno,
Porém o feno é de ouro
E tombem-se à sua réstia,
Serafim me confiou a piedade divina
Sempre me leve, me governe,
Me ilumine nos estribos
E relinche aquele que sabe,
Pois a idiotice é poética
E todos a recitam ao dormir
Para pastar nos campos celestes.
VI
Mera virtude incendiou
A mente do discípulo,
E eis que este deu seu pulo,
No julgo conhecer
Flertou o santo seu destino:
Ah, mas isto não pode,
Aquele homem é bode,
E faça da sua virtude
Exemplo de maldade.
Ceifada a última quimera
Meu bom homem,
E nos vastos rios brilha o sol,
E eis que este sol
É uma mera ilusão de calor,
Para alguns pode ser pavor,
Porém o retiro
É a soberba entrelinha
Que brilha na estrelinha
E garante o ovo
Não ser nenhuma galinha,
Pois o que quero dizer agora
Figura nestas
Mesmas entrelinhas,
Líder de nada, dono de menos ainda,
Tropeça em tua perna
E tenha pena do tropeço
Pois findaram-se as desculpas
E tu usurpas
Do mesmo tédio
Que borrifou no homem
Quando ergueu
Seu primeiro prédio,
Ao sentir seu
Primeiro
Arrepio
De cólera...