Lia, Um Poema

um longo poema

para uma longa odisséia

tal qual um teorema

tal qual uma epopéia

cruzam as linhas designadas

pela coadjuvante história

aquela sombra alada

que percorre em nossa memória

vasto como um campo de algodão

no almoxarifado mofo, em algum canto

o poema sombreia a fonte

e a fonte sacia a sede a cantos

em versos perdidos nos píncaros horizontes

em redes que embalam o sono

subestimada a vela

que a mitos de estima

iluminava a cantoneira

da rima

juras de amor flertaram

ao amanhecer de um novo dia

enquanto os floretes duelaram

em lúgubres teimosos serenos por Lia

aquela menina teimosa e vadia

que encantava os tropeços da nostalgia

fora uma moça pura

que então virara masmorra

para aqueles que procuravam a cura

em jaulas de horror e honra de Lia

delícias lia delíquotas orgasmos

espasmos da moça vadia

mingua em teus ossos pomba penosa de alegria e pleunasmos

fora clero um dia

aquela seda do alvorecer que penetrara no olfato

e virara heroína dos vícios meus

fibrilando à vertigens de contágio inexato

como puritanos e hebreus

na fúria singela do seu abstrato

ah Lia moçoila vadia e sombria que nos via e sorria

e depois da orgia

que no fundo no fundo

não nos sacia

relaxara no deslumbro

do peito do nexo

no feito intelecto

que paira alaúde

ela é doença não é saúde

mas pouco importa-me a vida

o coração batendo a cabeça impensante

quando Lia ah! quando a Lia

lira em meus ouvidos

em sussurros e zumbidos

na profunda natureza

de requinte e de pobreza

jaz meu universo uniforme

sintonia de perplexo Lia

onde jazia o tempo

que entonava fantasia

ampulheta parada de tempos mórbidos

soara o sino e embalara a ritmo fino

equivocara-se óh! minha Lia

que a paixão um dia findasse

e passasse minha agonia

mas e agora minha agonia

trezentos e sessenta mil pés do chão por

seiscentos anos de ingratidão

por um segundo de misericórdia

sou escravo teu cravo teus dentes em minha carne

e junto todo o meu sangue para servir-lhe em tua boca

uma antítese de aconchego

é o que peço em eloqüência rota

garota despercebida

que aos pouco transformou-se formicida

para minhas pragas

donde nasciam tuas delícias cara Lia

feneciam minhas chagas

e já não há mais palavras

que sacie nossa eterna lavra

fora pétalas deste inseto

agora és incesto delinqüente onde

estende os nexos a todos os plexos e complexos

em favas de mel sugado

degenerado ser Lia

minha moça vadia

minha esquizofrenia

que de tempos em tempos

seduz-me a alergias

assaz túmulo de rainha

célula de câncer

imaculada minha