A bolha

Há em mim uma bolha

resistente aos segredos

às dúvidas e ao destino

ao sufocante espaço que lhe designei

entre as verdades incontestáveis

mantém esse corpo vivo

cobrem-na a carne e as lembranças

cobrem-na por todos os lados

amoldou-se de dentro para fora

se de vazio ou

de incompletude ou

de infinito é repleta não sei

ignoro seu conteúdo

nasceu comigo

não aumenta

não diminui

mas está-se degradando

não provoca dor, nem prazer

nem bem, nem vicia

nem modifica coisa alguma

nem tampouco se manifesta

incita-me a perscrutar

sua superfície que já foi lisa

temo que seu desejo

seja finalmente romper-se

às vezes escapa-me

aos poucos cuidados que lhe dedico

desliza sem ser notada

assume uma nova forma

cobre-se de atrevimento

veste-se com paixão

tira-me o sono e se exibe

não raro me desacomoda

só assim quando foge

quando não em mim

nem nela ou em pensamento

vejo inteira tal como é

A bolha que há em mim.