No momento em que nasci

nada aconteceu no ritmo da vizinhaça.

Tirada a ferros de mãe gritante,

enquanto outra ninava sua criança.

Pai barafustando ao ouvido do médico

que a meia-noite contava dia seguinte.

Mudavam a hora à meia-noite... naquele tempo.

A nova mãe já descansava

e o pai ainda teimava...

Pai e médico arredondaram a cabeça melanciada,

mãe temendo o pensamento que definha...

e a vizinha

gritando ao tardeiro marido,

pernoitante doutra casa mais melada.

Enquanto ambulância corria na noite doutra criança,

nasci. Entrei na agonia da vida.

Nada mudou, mas eu vim para mudar.

Para aprender, adivinhar e curar.

Nasci sem horizonte,
mas mesmo assim nascer queria.
Seria uma ponte?

Nasci na noite estrelada, adivinhando o nascer do dia.

Rosa DeSouza
Enviado por Rosa DeSouza em 07/12/2008
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