A CASA TRISTE (poema inspirado em uma composição de Maria Olímpia de Melo)

Era uma casa comprida que nasceu bela

Chamava a atenção da vizinhança

Toda clara

Iluminada

Cheia de portas altas

Aliás, tudo era alto

O chão de tijolo de barro vermelho

O pátio cheio de latas de crótons

O purrão sob a bica esperando o inverno

As flores aquáticas no tanque

O quintal de todas as cores, patos, galinhas e pintos

Que saudade da goiabeira

E do coqueiro molhado de luar

Das estrelas cadentes

Dos pombos nos caixotes

Das estrelas piscantes

Das camas cheirosas

Das panelas gostosas

Fumegantes

Que saudade da cama fofinha

Do travesseiro de penas

Dos móveis e da rede

Das vizinhas batendo palmas lá no portão da entrada

Da novidade da geladeira

Do aparelho de tv

Da radiola

A casa fez quinze anos

Entrou pelos trinta

Chegou aos sessenta

Foi ficando triste

Foi se apagando

Se fechando

A casa está com o olhar perdido

O janelão foi retirado

As portas estão caídas

O quintal está vazio

A dona se foi

Levou consigo a beleza da casa que tanto amou