Eu Não Sei Chorar Pequeno

Eu não sei chorar pequeno

não sei rolar a furtiva lágrima

que o lenço branco secaria.

A água que sai dos meus olhos

é enchente soluçada.

Eu não sei sentir devagar

e permitir somente o comedido,

ocultar os atos incontidos

sob o manto leve da elegância.

Não estanco os nervos em hemorragia,

por que não sei como o fazer.

Eu não sei amar ameno

começar devagar,

divagar antes de mergulhar...

Manter a vontade em segredo,

que nem a tortura ou o medo

faria o olhar revelar

naquela singela lágrima,

que eu não aprendi a chorar.

Sou terremoto

ventania, furacão.

Sou mar em fúria,

deserto de Atacama,

fome na Etiópia,

neve na Sibéria.

Por que eu não sei chorar pequeno,

nada em mim é ameno.

E mesmo a dor que ora vai nas veias

corrói o sangue e destrói as artérias...

Me torna matéria amorfa,

bola de carne jogada ao chão.

E as hordas assassinas

de auto comiseração

– qual vermes em um cadáver –

dão cabo ao que restou.

Mas também não sei aceitar o fim...

Não um final tosco assim.

Mais que ter pena de mim,

vou reerguer a massa morta,

resignificar as mitocôndrias,

colar os ossos e ficar em pé.

Erguer o calcanhar esquerdo

pra dar o passo no firme chão.

Mirar o foco:

“A Caminho da Santificação”.

Jane de Paula Carvalho Santos
Enviado por Jane de Paula Carvalho Santos em 15/12/2008
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