Força irresistível

minhas pernas já não doem

meus pés de tão cansados

retiraram-se da caminhada

ainda cedo

não se queixam os joelhos

terem-me trazido tantos dias

e tantas coisas conheceram

que só aos joelhos é dado conhecer

arrastaram-me os braços

contra a força da terra

contra o peso que carrego

ainda tão pesado

não consegui deixá-lo – esse peso

ancorado em algum porto

ir e depois voltar

como fazem a dor e o sonho

a permanência

a imobilidade

a irresistível e magnífica

atração dos corpos

abro a boca para tentar sair

debruço-me nesses papéis

desdobro uma melodia guardada

e permaneço

algo desprende-se e vai

leve e tão sem compromisso

desconhecido de si

e nem sabe que existo