Aquela árvore

Ontem, desnuda! Ramos ressequidos!
Dedos crispados, para o alto erguidos
A implorar ao vasto céu, clemência.
Não tinhas flores, frutos, sombra, nada...
E as folhas tuas, secas, na calçada
Rolando iam, ao léu, em turbulência...

Era o inverno cruel! O vento frio!
A terra seca! O céu azul, de estio,
Minando a resistência da coitada...
E os homens que buscavam tua fronde?
Que é feito deles? Onde, então, se esconde
O incauto colibri? E a passarada?

Onde estará a construir seu ninho?
Onde pipila de manhã, cedinho?
Ou, quando a tarde, sonolenta, passa?
Tudo se foi e em seu lugar situa
A triste solidão gelada e nua,
Que o vento frio, a sibilar, abraça...

Hoje, porém, a primavera torna.
Sopra do norte a brisa olente e morna
E a chuva já caiu, molhando a terra.
E as folhas vão surgindo, acetinadas,
Bandeiras da esperança, desfraldadas,
À triste solidão fazendo guerra.

As flores surgirão... Frescos, maduros,
Ofertarás os frutos teus, tão puros,
Aos que te abandonaram certo dia...
E tudo há de tornar-se como outrora.
A solidão fraqueja, vai se embora,
Surgindo em seu lugar paz e alegria.

Quando, amanhã, voltar o inverno rude
Que o teu destino, fatalmente, mude,
Essa alegria não terás, jamais...
Conheço, bem de perto, essas mudanças...
Não há entre nós dois dessemelhanças...
Nossos destinos não são desiguais...


Maio de 1961




Antonio Lycério Pompeo de Barros
Enviado por Antonio Lycério Pompeo de Barros em 21/12/2008
Reeditado em 30/03/2009
Código do texto: T1346383
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