Devíamos ter duas vidas...
Todos deviam neste mundo,
dispor de duas vidas.
Uma para ser guardada e regrada,
seria uma reserva de luxo, uma lambuja.
E a outra para ser vivida desregradamente,
da forma que pai e mãe reprovariam,
mas, que nos dá imenso prazer.
Da forma que a mulher reprovaria
mas, que não menos prazer nos dá.
Uma, para maltratar o fígado com
um bom vinho ou uma cachaça da piores.
Esta seria pra se ter uma ressaca a cada dia
e uma cirrose no final.
Todos deviam neste mundo,
dispor de duas vidas.
Uma para arriscar a furtar a namorada do amigo,
a mulher do menos amigo, a enrolada do conhecido.
Se não for possível sair ileso, levar tapas e esfoliações.
Uma para poder curtir cada momento bom,
Mas, que devido às “responsabilidades” não nos permite
com uma vida somente. Tem as regras a serem seguidas...
Uma para amanhecer nas ruas e chegar em casa exalando
perfume barato e sem classe, mas, com a classe de um ser feliz.
Uma, para brincar de viver e levar a vida brincando.
Outra, para empregos e deveres, coisas chatas e sem graça nenhuma.
Todos deviam neste mundo,
dispor de duas vidas.
Eu viveria a segunda com muito mais intensidade.
Eu iria reinventar a canalhice, a malandragem sadia...
Também, Deus, que das coisas sempre soube,
Soubera antes dos exageros que seriam cometidos, e, sabiamente,
nos deu esta única e divina vida, para dela bem cuidarmos.