É necessário escrever sobre mim mesmo.

é necessário escrever sobre mim mesmo.

se eu não escrever, quem é que vai?

eu, que não estou ileso

eu, que não tenho desejo

eu, que não dormi quase nada esta noite com pesadelos de poesia urbana e ancestral, loucamente perturbado e rolando entre o calor, e agora tenho dores no corpo.

estou realmente indignado mesmo com a dor no meu dedo da mão que eu escrevo, e dói lá no fundo do osso.

hoje o sol é PÁLIDO e eu espirro sorrateiramente.

e eu ando muito preocupado com a tradução da palavra 'bleak'.

e eu ando muito cansado de ficar cansado, e eu não faço NADA o dia todo, ai ai ai.

a minha vida é um desamor.

ei Ismael, cadê você? que transtorno você vem me causando ultimamente, suas luzes sujas apagadas.

você aí, querendo fazer uma literatura muito louca pra toda garotada e pros jornalistas. é uma epopéia de solidão essa arte.

meu dedo que não estala, meu osso do dedo

bleak, dim fire from the Sun...

estou obcecaaaaado por literatura norte-americana; que grande descoberta.

foi uma descoberta visionária no ano de 2008!

não gosto de faculdade mas vou muito bem, ei

Ismael você está sendo esquisito. sua chefe do seu ladinho, acho que não ama a poesia.

embora seja uma pessoa amável.

devo falar mais de mim mesmo?

procuro aprovação?

infelizmente!

na literatura?

SIIIIM!!!!

não me resta nada além.

tenho medo de ter câncer algum dia.

e se morrer ficam meus versos

universos em fim

estou obcecado pela literatura.

ai de mim...!

que faço além de desfazer?

não sou feliz nem sei se desejo sê-lo?

estou cansado de Pessoa, não não isso não.

busco as heróicas vacas homéricas

em não sei qual desciclopédia jamais escrita.

hoje os versos são bem dantescos, com a fluidez do Estige.

amanhã não sei. e me preocupa não saber os meus versos de amanhã.

e é a única preocupação que tenho, é o meu TOC a minha doença incurável intrínseca da medula e dos nervos ópticos.

como será a estética do bicho-poema amanhã?

estou ficando irrepreensível. sem a menor repressão. ninguém me bate na bunda mais.

e isto não é fenomenal. são os adultos que precisam de mais palmadas

e eu olho os ônibus lá embaixo, que fazem viagens curtas e meu coração aperta...

E EU TENHO UMA VONTADE FULMINANTE DE CHORAR!

e relembro o poema, que adotei debaixo das minhas asas geladas, órfão, “L'invitation au voyage” de Baudelaire. um poema pelo qual eu morreria, só para vê-lo andar vivo por aí com suas pernas de fauno e tambores orientais, em um navio do crepúsculo eterno.

a poesia me alegra,

e eu... eu... eu... agora o Sol brilha mais forte e eu acho que assim esse poema já tá bacana