Atena
 
Que eu devia ter nascido homem
só porque penso bem,
são murmúrios.
 
Não sou homem, sou mulher.
Filha de meu pai, nasci sem mãe,
em eterna juventude.
 
Daí talvez meus modos
um tanto quanto destemperados.
 
Pendurei nas paredes uma fileira de homens coagidos
pelas ondas cerebrais que minha boca emitiu.
 
Envolvi meu corpo em couraças protetoras
como camadas de cebolas reluzentes de ouro,
e, com um grito selvagem, armei-me para a vida
sem precisar de lágrimas ou olhares de peixe-morto.
 
Construí lanças sonoras que penetram fundo
pelas frestas das rochas do deserto
por onde ecoam as águas refrescantes
saciando minha sede de justiça.