Eu Pergunto A Vocês

Eu pergunto a vocês

Como andar alegremente

Em meio a essa grande dor

Que todo mundo sente?

Eu queria muito também

Poder dizer, sou contente.

E assim andar de acordo

Mas o coração não mente.

Eu pergunto a vocês

Como é que a gente faz

Quando o produto da luta

É a um outro que satisfaz?

Eu queria ir e te abraçar

Dizer que estou contente

Por ter vindo me visitar

Mas sinto-me mui doente

Eu pergunto a vocês

Onde é que encontro

O mitigador do veneno

Que causa desencontro?

Olha aqui, vem, vem ver

O que tenho colhido

Ao longo desse viver

Em que tenho morrido

Eu pergunto a vocês

Que vivem tão distante

Se aí há outros irmãos

Com olhar lacrimante?

Eu queria muito dizer

Umas palavras amenas

Mas é a dor que vaza

Pela ponta desta pena

Eu pergunto a vocês

Se existe outra realidade

Onde todo mundo tem

A mínima dignidade?

Eu queria poder ser diferente

Poder te mostrar meu riso

Mas essas vidas descontentes

Cegam-me à visão do paraíso

Eu pergunto a vocês

Se aí alguém pode me dar

A mão que tanto preciso

Para seguir meu caminhar

Queria te dar mais atenção

Te explicar bem o que sinto

Mas me chama meu irmão

Por isso abandono o recinto

Eu pergunto a vocês

Que sofrem tanto por amor

Será que sou tão diferente

É só eu que sinto essa dor?

Eu queria olhar para lua

Ficar chorando sem parar

Mais é maior a minha luta

E eu tenho que continuar

Eu pergunto a vocês

Se não choram seus vizinhos

Em noites e dias bizarros

Em total falta de carinho?

Eu queria viver a fantasia

Não ouvir os gritos do irmão

E dormir como quem leva

Uma vida sem desilusão

Eu pergunto a vocês

Se por aí não há loucuras

Se por aí todos agüentam

Se por aí não há torturas?

Eu queria não trazer os lábios

Trementes de tanta comoção

Diante do sofrer de minha gente

Esquecida no fundo do porão

Eu pergunta a vocês

Que vivem sem se preocupar

Se posso falar sinceramente

E aqui o vero sofrer revelar?

Porque enquanto você vai e vem

Há pessoas pelo meu mundo

Levando uma dor que não convem

E sentindo um sofrer profundo

Eu pergunto a vocês

Se não vão assim se assustar

Se alguém não ler os versos

Que não sejam frutos de lutar?

Porque há Guerras maiores

E eu não tenho tempo para

Buscar inspirações vazias,

Inventar falsos sofrimentos

Eu queria seguir esse caminho

Mas não sei me enquadrar

E isso faz que ande sozinho

Esmagado sob Noite sem luar...

Sebastião Alves da Silva
Enviado por Sebastião Alves da Silva em 13/04/2006
Reeditado em 14/04/2006
Código do texto: T138273
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