Poesia Prostituta

puta de letras óbvias

culta saga de dedos que escrevem nus

poesia prostituta

latifundiária

política

nua

arcaica dentro dos postes lunares da minha cidade

minhas palavras não são minhas

saem e gritam pelo mundo e se esquecem

na cocaína dos meus beijos de pavor

beijos de língua-pavor

beijos prostitutos

poesia

minha poesia é a sua vida retratada

tirada de escalas musicais tão novas

que há ainda um vestígio de Mozart na sala

(A sala tem um ar de borralho.

As visitas saem com os lábios molhados de café e biscoito.

Minha mãe se suicida no banheiro com as mãos entre as pernas.

Julita come papel e se sufoca de dor.

As visitas gordas matam minha ilusão de felicidade.

Meus livros exalam gozo puto e grosso.

Ofensivo.

O Poeta declama sua prostituta poesia.

Minha mãe morre com as mãos entra as pernas

e com o rosto bordado de pavor.)

livros que somem

verbos desconstruídos

puta vida prostituta

poesia vagabunda e doce

doce poesia idílica

Estou na rua agora.

uma chuva aveludada me molha as coxas e

os lábios

entro em parto com minha poesia

minha poesia prostituta

Valdson Tolentino Filho
Enviado por Valdson Tolentino Filho em 13/04/2006
Código do texto: T138657