Carta Chilena

Há lágrimas.

Depois da dor

e das lágrimas,

cai a última gota de sofrimento.

Rasga o véu intocável

da face sisuda.

Desenha costelas

na estrada, outrora, acariciada.

Os olhos que lá habitam

vagam sempre

em busca de outras mãos,

tão suaves e macias

quanto aquelas de Marlene.

(Frustração!)

O amor doente

cega o coração.

O homem doentio

transpassa suas mentiras

no oblíquo estrelar

de rosas cálidas.

Invade lábios, carnes,

inutilmente, sonhando apagar

um passado tão vivo e presente

em seu caminhar

à procura de botecos forquilhos

e bingas abandonadas no chão.

Fecunda novas dores

em inocentes almas,

a descontar seu próprio flagelo;

calvário de um Cristo pagão.

Assassina crianças,

sonhos e feridas,

que não mais serão curadas:

Cicatriz eterna.

Ludibria a ilusão de outrem

e dá cabo a esperança

que poderia nascer,

se não fosse pelo reflexo

de suas palavras peçonhentas.

Desiste, pois,

de renascer verdadeiramente

como uma fênix

de chamas divinas.

Transforma-se em um pombo

negro e sujo,

que voa na direção contrária,

mais alto que o nariz

que aprendeu a empinar por ser fraco.

Chega aos Andes e,

no frio - congelado e febril (poetisse) -,

defeca sobre as cartas extraviadas.

*Inspirada nos fingimentos de um colega.

Raul Furiatti Moreira
Enviado por Raul Furiatti Moreira em 16/01/2009
Código do texto: T1387965
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