A bela e o bobo

Entre as batalhas do reino

E as festas do palácio

A princesa sentia-se solitária

Ao amor não havia sido apresentada

E o rei não se permitiria falecer

Sem antes a jovem entregar

A dama era bela como não havia no reino

Sua pele era como o bronze que reluz o sol

Seus cabelos como as asas do falcão

Seu rosto brilhava mais do que a esmeralda

O reino era poderoso e próspero

O rei era desejoso por ver a filha com um homem sábio

E chamou os mais inteligentes do país à sua presença

De todos queria ver e ouvir as virtudes do conhecimento

E recebeu deles literatura, física, química e ciências naturais

Percebeu o quanto aqueles homens eram cheios de saber

A princesa a tudo acompanhava, mas com nenhum se entusiasmava

Pois seu coração queria um saber que não estava na ciência

Desconsolada andava entre os pórticos reais

Sonhava e olhava o céu escurecer sobre sua cabeça

O rei não mais sabia o que fazer para alegrá-la

Angustiava-se com a possibilidade de não a ver casar-se

Sobre o trono colocava-se a pensar onde andava o amor

Teria o amor escondido entre os montes do planalto?

Seria ele dom destinado a alguns poucos escolhidos?

Corria ele seguindo os rios ao encontro do mar?

A bela olhava a verde grama repleta de orvalho

Aprendera um dia que era dadivosa quem esperava

Suplicante a Deus elevava suas orações

E juntava as mãos carregadas de esperança e fé

Num amanhecer de céu límpido ecoou um brado

E somado a ele surgiram trombetas e tambores

Chegava ao reino o Grand Circo Imperial

O pátio do castelo se encheu de cores e música

De danças e brincadeiras entre risos e histórias

Malabaristas, contorcionistas, belos animais

Um palhaço com rosto pintado

Saltava e sorria entre truques e brincadeiras

A bela princesa se encantou com a festa e se aproximou

Estava extasiada com a linda arte

Repleta de sua suavidade jovial aproximou-se

Quando de súbito uma flor à sua frente se apresenta

E com ela o delicado sorriso do bobo

Senhora de beleza que nunca se viu

Consagra a vida deste humilde servo

Para meu coração fazer sorrir e mostrar para que vivo

Espantada a moça segurou a flor

E sentiu seu cheiro de real fantasia

Seus olhos brilharam fitando o bobo

Pensou como seria seu rosto debaixo da pintura

Contava as horas para o espetáculo

Angustiada rondava pelos corredores do palácio

Não conseguia deixar de pensar nas palavras do palhaço

Como ater sua lembrança em quem não conhecia?

Porque tão poucas palavras a incomodavam tanto?

Quem se escondia por detrás das cores?

A noite chegou e a música começou a ressoar

Vibravam as crianças entre doces e cantigas

A festa do povo era o retrato e o coração do circo

Malabarismos, acrobacias e trapézios

Arcos mortais, fogo, peripécias e animais

Um espetáculo cheio de arte, danças e muito mais

Enfim o palhaço pisa no tablado

As crianças se agitam quando seu corpo

Entre saltos e tropeços é o único iluminado

A princesa na primeira fila sorri e silencia

Admira as piadas, as trapalhadas

Entre uma pose e uma sucessão de aplausos

A imaginação do que está atrás das máscaras

Ao fim do ato, uma flor

Jogada sobre o colo da bela dama

Que a recebe, a cheira e não sabe se se apaixona

O espetáculo acaba e as pessoas se vão

O silêncio volta a reinar ao apagar das luzes

O único que não cala é o coração da princesa

Ela vai ao encontro do homem de rosto colorido

Encontra limpas faces por onde anda

De aflição sua alma se inunda

Volta ao castelo e toma o beiral da janela

Sobre a grama um objeto lhe rouba atenção

Desce rapidamente e o segura com a mão

Molhado com o orvalho da noite

O chapéu de sinos do palhaço

Um presente que com sorriso muda seu semblante

O nascer do sol trás felicidade e esperança

Com o chapéu na mão corre pelos jardins

Faz uma oração pedindo aos anjos querubins

Ajuda para encontrar o bobo que não lhe sai da lembrança

O que procura tão bela jovem?

Quisera este simplório homem que fosse a mim

Pois não existiria benção maior neste mundo

Que tanta beleza aos meus olhos desejar

A princesa se ruborizou

Mostrou o chapéu que consigo trazia

Fitou os olhos do moço e sentiu alegria

És tu o bobo que a tantos encanta com bom espírito

E que me fizeste escrava da dúvida e aflição?

Serias tu aquele que mesmo sem conhecer

Encerra meus apelos por entregar o coração?

A ti divina dama e senhora

Entrego meus préstimos servis

Meu coração como nunca se acalanta

Ao ver-te em minha frente com sorrisos pueris

O por segundos os risos deram lugar aos olhares

Os truques cederam espaço aos sonhos

O beijo do amor edificou novos planos

Beijá-la-ei com meus beijos e desejos

E consolidar-te-ei como senhora de meu amor

E minhas faces coloridas estarão sempre ao seu dispor

Serei seu vassalo, seu servo e senhor

Serei o bobo, o conselheiro e companheiro

Em tua vida quero ser o bom amor.

Bruno Dias
Enviado por Bruno Dias em 20/01/2009
Código do texto: T1395105